1. Inteligência é a informação que foi coletada, processada, delimitada e disponibilizada para atender as necessidades de um decisor.
  2. Pode ser uma organização, um processo ou um produto.
  3. O Ciclo de Inteligência representa o processo que transforma informações brutas em inteligência acabada para uso no processo de tomada de decisões pelos formuladores de políticas.

Para muitos a Atividade de Inteligência está ligada a mistérios, segredos,  espionagem e intromissão nas vidas dos cidadãos. Entretanto, essa visão ignora completamente o fato de que a maior parte dos insumos que compõem o seu produto final é proveniente de fontes abertas.

Seu resultado é a informação que foi coletada, processada e disponibilizada para atender as necessidades de um decisor, independentemente de como foi obtida.

Mark M. Lowenthal[1] aponta que muitos pensam em inteligência em termos de informação governamental e/ou militar. Este é certamente o uso mais visível da inteligência, mas ela também está presente nas áreas política, empresarial, social, ambiental, de saúde, cultural e em todas as outras áreas da vida das pessoas.

A Atividade de Inteligência abrange a identificação de oportunidades e ameaças à consecução das políticas; o planejamento e a execução de ações que viabilizem a obtenção de vantagens; a segurança de conhecimentos e dados sensíveis e das pessoas, áreas, instalações e meios que os guardam ou veiculam; e a prevenção, detecção, obstrução e neutralização de ações da inteligência adversa e de outras ameaças. Essencialmente, trata-se de conhecer a realidade para viabilizar a ação política capaz de gerar o bem comum.

Vários autores, dentre eles Lowenthal e Sherman Kent[2], definem a inteligência a partir de três perspectivas:

a. Organização: a entidade que desenvolve ações de Inteligência.

b. Processo: o meio pelo qual as informações são demandadas, coletadas, analisadas e divulgadas, bem como a forma como as ações sigilosas são concebidas e conduzidas.

c. Produto: o conhecimento resultante de análises e operações de inteligência propriamente ditas.

No âmbito da Atividade de Inteligência, conhecimento é a representação de fato ou situação, de interesse para a Atividade, produzida pelo profissional de Inteligência[3]. Essa representação, que descreve e interpreta a coisa ou o evento, é uma composição de representações conceituais, pelas quais são formulados juízos e elaborados raciocínios. Dado é a representação de qualquer fato ou situação não elaborada pelo profissional de Inteligência.

O conhecimento pode ser considerado um subconjunto de uma categoria mais ampla que é a informação. Também se pode dizer que todo conhecimento é informação, mas nem toda informação é conhecimento.

Para a compreensão do processo de produção de conhecimentos, é fundamental que o profissional realize três operações intelectuais: conceber ideias, formular juízos e elaborar raciocínios, assim entendidos:

a. Ideia é a simples concepção, na mente, da imagem de determinado objeto, sem adjetivá-lo.

b. Juízo é a operação pela qual a mente estabelece uma relação entre ideias.

c. Raciocínio é a operação pela qual a mente, a partir de dois ou mais juízos conhecidos, alcança outro que deles decorre logicamente.

No Brasil, a Doutrina de Inteligência preconiza quatro tipos de conhecimento a serem produzidos pelos órgãos de inteligência[4]:

1. Informe – é o conhecimento sobre coisa ou evento passado ou presente, resultante de juízos, que expressa o estado de certeza ou opinião do profissional de Inteligência em relação à verdade.

2. Informação – é o conhecimento sobre coisa ou evento passado ou presente, resultante de raciocínio, que expressa o estado de certeza do profissional de Inteligência em relação à verdade.

3. Apreciação – é o conhecimento sobre coisa ou evento passado ou presente, resultante de raciocínio, que expressa o estado de opinião do profissional de Inteligência em relação à verdade.

4. Estimativa – é o conhecimento sobre a evolução futura de coisa ou evento, resultante de raciocínio, que expressa o estado de opinião do profissional de Inteligência em relação à verdade.

O Ciclo de Inteligência representa o processo de transformação de informações brutas em conhecimento para os formuladores de políticas usarem na tomada de decisões. Inclui a identificação das necessidades de informação dos decisores, o planejamento das medidas necessárias para alcançar o resultado desejado, a obtenção e a análise de dados, a formalização do conhecimento obtido e a sua difusão.

Todas as organizações que trabalham com a Atividade de Inteligência utilizam, com adaptações, o processo denominado Ciclo da Inteligência para produzir os conhecimentos necessários ao assessoramento direto dos decisores. Basicamente, o Ciclo está dividido em 4 fases:

Planejamento

É a fase em que se organiza desde a identificação da necessidade de informação até a entrega de um produto de inteligência ao consumidor final.

O processo se inicia a partir de uma demanda do nível mais alto de decisão. São identificadas as necessidades de informação e definidas as estratégias de obtenção e produção dos conhecimentos adequados para atendê-las.

Nesta fase, o profissional define os meios necessários à produção dos conhecimentos requeridos, com base nos aspectos essenciais ao atendimento da demanda, a faixa de tempo a ser considerada, o prazo para o atendimento, o usuário final e a finalidade do produto.

É o início e o fim do ciclo; o início porque envolve a elaboração de requisitos específicos de coleta, produção e disseminação dos conhecimentos, e o fim porque frequentemente conduz a novas necessidades informacionais.

Reunião

São obtidos os insumos que contribuirão para a produção do conhecimento, por diversos meios, dentre eles as oito fontes básicas de inteligência ou disciplinas de coleta:

  • Inteligência de Fontes Abertas (OSINT)
  • Inteligência de Fontes Humanas (HUMINT)
  • Inteligência de Sinais (SIGINT)
  • Inteligência de Imagens (IMINT)
  • Inteligência Técnica (TECHINT)
  • Inteligência de Medidas e Assinatura (MASINT)
  • Inteligência Geoespacial (GEOINT)
  • Inteligência Cibernética (CYBINT)
  • Inteligência de Mídias Sociais (SOCMINT)

Além disso, podem ser realizadas consultas a arquivos, unidades do próprio órgão e a outros organismos de Inteligência, bem como a qualquer instituição que possa contribuir com dados e conhecimentos que possibilitem ao profissional de Inteligência apreender aspectos da realidade em exame. O elemento operacional do órgão de inteligência deve ser acionado nos casos em que os insumos necessários não estejam disponíveis de forma aberta.

No mundo atual, quantidades cada vez maiores de dados e informações disponíveis no espaço cibernético desempenham um importante papel neste processo e é crucial que sejam exploradas. Tecnologias como Big Data, Aprendizado de Máquina e Inteligência Artificial são fundamentais para a Atividade de Inteligência no século XXI, mas ainda não são suficientes para fornecer todos os conhecimentos necessários. Devem ser considerados o contexto em que o problema a ser considerado se situa e uma análise humana qualificada para que se possa alavancar a tecnologia como multiplicador de forças.

Processamento

Essa fase é realizada em duas etapas: 1. Análise e Síntese 2. Integração. Inicialmente, o analista define o que é pertinente e tem valor para o seu trabalho. Grandes quantidades de dados são submetidas a métodos analíticos que permitem selecionar as frações significativas, avaliá-las, relacioná-las, integrá-las e produzir inferências para conhecer eventos passados e presentes, bem como projetar cenários futuros.

Uma parte substancial dos recursos de inteligência é dedicada à transformação de dados brutos em uma forma utilizável pelo analista de inteligência para a produção de relatórios oportunos, confiáveis e orientados ao atendimento das necessidades informacionais dos decisores.

Por fim, se estrutura um conjunto coerente e ordenado com base no resultado da análise e síntese, de forma a identificar os fatores que delineiam a trajetória e o histórico da situação, integrando todos os elementos fundamentais, em uma cadeia de causas e efeitos que permita ao analista obter o significado final do seu trabalho. É fundamental que esse resultado facilite a compreensão do usuário sobre o conteúdo do produto, considerados os aspectos essenciais elencados no planejamento.

Diferentemente do que ocorre no Brasil, muitas agências de inteligência consideram que Análise/Síntese e Processamento são duas fases distintas do Ciclo.

Difusão

Nessa etapa o conhecimento produzido é formalizado e encaminhado ao destinatário final, fechando o ciclo. Os conhecimentos são remetidos por meio eletrônico seguro ou por meio de portador, no caso de documentos com maior necessidade de sigilo.

Assim como no método científico, a execução bem-sucedida de cada etapa do ciclo de inteligência depende da execução bem-sucedida da etapa anterior. Por isso é importante que o destinatário avalie o conhecimento recebido, de forma a permitir o ajuste e otimização de operações de inteligência em andamento e futuras. Na prática, isso nem sempre acontece. Em muitos casos o feedback é inexistente ou deficiente, sendo apenas uma reflexão tardia.

Essa é uma das razões que tornam o trabalho de produção de conhecimento muito difícil. Há que se lembrar que a produção de conhecimentos de inteligência não é um ato que o analista pratique por vontade própria. É preciso que haja uma demanda, bem formulada e com foco, para que o trabalho seja proveitoso. Como esse trabalho tem por objetivo o atendimento das necessidades informacionais de alguém, o feedback é fundamental para que seja possível avaliar a qualidade do produto, o que nem sempre acontece na realidade.


[1] LOWENTHAL, Mark M.  Intelligence: From Secrets to Policy, CQ Press, 2017.

[2] KENT, Sherman. Informações estratégicas Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1967.

[3] FARIAS, Antônio A. C, Atividade de Inteligência: O Ciclo da Produção do Conhecimento, 2017

[4] Agência Brasileira de Inteligência, Doutrina de Inteligência

Categorias: Inteligência

1 comentário

Mariano · 09/12/2020 às 14:48

Interessante e louvável as informações

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